segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Povo de Santo pede a paz e respeito!

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Representantes de religiões de matriz africana tomaram ontem as ruas do Engenho Velho da Federação, Vasco da Gama e Dique do Tororó para promoverem a 5ª Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa, causando longo engarrafamento. Vestidas de branco, milhares de pessoas protestaram contra a discriminação e pediram paz e respeito às práticas do candomblé. Fogos de artifício, trio elétrico e um ato de paz com show no Dique fizeram parte do evento. Nem o sol quente desanimou os participantes da caminhada que lançaram um slogan para os incubados : “Quem é de axé diz que é”. Não era dia de santo, mas o domingo para muitas pessoas foi de manifestação e valorização aos ritos que evocam os orixás. Com contas no pescoço, torço na cabeça e saia rodada, a Ialorixá Cleonice, mais conhecida como mãe Dó, do terreiro Raiz de Oxumaré, se aprontou cedo para participar do ato em favor da tolerância religiosa.
“É um ato bonito de confraternização, mas principalmente de demonstração da nossa força e de que devemos nos unir ainda mais. Não podemos nos curvar às críticas, pois somos livres pela fé em Deus a quem veneramos e nos orixás, que são energias. Todos somos iguais e tudo isso foi deixado por Deus, portanto deve haver respeito”, disse.
Crianças e jovens do projeto social realizado pelo terreiro de mãe Dó também participaram do evento. Sessenta jovens integram o projeto que dá aulas de dança, capoeira, percussão, informática e reforço escolar.
Presente na caminhada o secretário de Reparação Racial do Município, Ailton Ferreira, disse que o ato era mais uma iniciativa importante dentro do novembro negro. “Temos aqui representantes de 20 estados brasileiros e do interior da Bahia. Trata-se de um ato pela vida e contra o preconceito religioso”. De cima do trio, representantes do candomblé combateram com palavras e cânticos o assédio e a provocação de outras religiões que mitificaram a crença nos orixás, como um culto ao diabo. “Chega de tanto desrespeito, de tanto desamor. O desrespeito a religião é um crime contra a vida e está na Constituição Federal”, dizia um pai de santo.
intolerância - Vítima da intolerância religiosa, já que precisou sair da comunidade de Valéria para não sofrer mais perseguições, Evandro de Logun, de um terreiro em São Gonçalo do Retiro chamou a atenção para a necessidade das pessoas viverem em paz sem desrespeitar o espaço e as manifestações alheias. “Eles me provocavam dizendo que serviam a Jesus e eu servia ao diabo. No entanto sirvo ao mesmo Jesus deles. A diferença é que nós também cremos nos orixás. Quando eles passam com a Bíblia debaixo do braço não fazemos nenhuma crítica, por isso pedimos que quando nós passarmos com nossas contas eles também nos respeitem”, reivindicou.
Depois de ter sido católica praticante durante 50 anos, a paulista Ivete Gomes disse que é no terreiro que hoje encontra forças. “Todas as religiões são boas, mas cada um deve escolher a sua e respeitar a do outro”, exaltou.
A manifestação também trouxe pessoas de fora do Estado, a exemplo de um grupo de 60 pessoas que vieram do Rio de Janeiro somente para o evento. “Temos que lutar para vencermos o preconceito”, resumiu o pai de santo Washington de Xangô.
O carioca Torres de Ogum, frequentador há 35 anos de um terreiro no Rio também ressaltou a importância de prestar esclarecimentos sobre as religiões africanas. “Infelizmente esse preconceito existe por serem essas religiões de origem negra sem as oportunidades de educação das outras raças. Alguns dizem que cultuamos o diabo, mas o que existe é Deus e os orixás”, enfatizou, lembrando o uso da cor branca como uma manifestação natural pela paz.

Fonte: http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=30745