quarta-feira, 27 de maio de 2009

Coletivo de Entidades Negras - CEN

Lutar contra o desrespeito e a intolerância religiosa é tarefa de toda a sociedade brasileira

O Coletivo de Entidades Negras (CEN), é hoje uma das maiores organizações do Movimento Negro brasileiro, atuando em temas que vão da juventude às questões de gênero, é a defesa das religiões de matrizes africanas a marca mais visível de sua atuação institucional.

Criado em Salvador, cinco anos atrás, o Coletivo de Entidades Negras hoje encontra-se em 17 estados da Federação. Com uma presença marcante no Norte e Nordeste do país, o marco geográfico do CEN já o diferencia da maioria das organizações nacionais negras que se concentram no eixo Rio, Sâo Paulo e Minas.

O CEN é formado por pequenas organizações, por redes, por casas religiosas ligadas à umbanda e ao candomblé, por associações de moradores, clubes de mães, blocos culturais, afoxés... enfim, um mosaico que forma um imenso coletivo responsável por agregar em torno de 300 organizações no país inteiro.

Desde seu nascimento um tema sempre foi muito caro ao CEN: a defesa das religiões de matrizes africanas e a luta contra o desrespeito e a intolerância religiosa. "Começamos realizando a Caminhada do Povo de Santo", diz Marcos Rezende, coordenador geral da instituição e, ele mesmo, um religioso do candomblé. "Neste ano realizaremos a V Caminhada e, no próximo ano, se os Orixás nos permitirem, faremos uma grande caminhada em Brasilia ou em Salvador. Mas é nosso interesse pautar uma reunião com a nova ou novo Presidente da República em 2010, para dizer que as religiões de matrizes africanas exigem respeito e políticas públicas", afirma Marcos.

No ano passado o CEN foi responsável por uma das maiores mobilizações já feitas em torno de uma casa-de-santo, quando a prefeitura demoliu uma casa de candomblé e o CEN assumiu a frente de sua defesa. O ato culminou com uma greve de fome de seu coordenador geral e dessa mobilização surgiu um vídeo chamado "Até Oxalá Vai à Guerra", que já foi premiado em vários festivais no Brasil e no exterior.

Em 2009, ocorrerá a Conferência Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, promovida pela Seppir, ligada à Presidência da República. Esta Conferência definirá o Plano Nacional de Igualdade Racial e, para a coordenação do CEN é um momento vital para discutir questões fundamentais. A primeira delas diz respeito à defesa da questão da religiosidade, para isso o CEN apresentará um conjunto de propostas:

1) Que seja constituído em Brasilia, a partir desta Consulta, o Fórum Nacional da Religiosidade Afro-Brasileira, composto pelos mais velhos, pelas mais velhas, por pessoas representativas da religiosidade em todo o país;

2) Que numa escala abaixo, subordinado a este Forum Nacional da Religiosidade Afro-Brasileira, se constitua um Comitê Executivo, formado pelas entidades nacionais que lidam com religiosidade afro-brasileira e vêem contribuindo para que, no cenário nacional, as ações em defesa e promoção da religiosidade se dêem em vários campos.

3) Caberá ao Forum Nacional da Religiosidade Afro-Brasileira coordenar o Comitê Executivo e supervisionar suas ações, dando a palavra final sobre todas as propostas que este Comitê apresentar;

4) Caberá ao Forum Nacional da Religiosidade Afro-Brasileira coordenar a montagem de uma ampla agenda de discussão que se dará entre este for um e o próximo/proxima presidente da República, visando construir uma agenda que envolva todos os ministérios e uma agenda transversal dentro da máquina pública em âmbito federal;

5) Caberá ao Comitê Executivo organizar a I Caminhada Nacional do Povo-de-Santo Pela Vida e Pela Liberdade Religiosa, em Brasilia, em novembro de 2010 e coordenar a Campanha Nacional "Quem é de Axé diz que é!", visando influir positivamente no Censo de 2010, para que o povo-de-santo assuma publicamente sua religiosidade.

6) Caberá a SEPPIR garantir as condições necessárias para a mobilização deste Comitê Executivo para que o mesmo se reúna ao menos uma vez por mês (o que não significa muito, uma vez que este comitê será formado de aproximadamente 10 a 12 entidades).


Além dos muros das relações étnico-raciais
O fato de ser uma organização do Movimento Negro não torna o CEN uma instituição carrancuda ou radical como muitas que se conhece. Há brancos filiados ao CEN, afinal, o componente religioso dilui a questão da cor da pele e um sacerdote ou praticante de uma religião de matriz africana, por mais claro que seja, sempre será visto como alguém que reverencia a ancestralidade, a cultura e a religiosidade africana.

O CEN quer ir além das fronteiras do Movimento Negro, diz seu Coordenador Nacional de Política Institucional, Marcio Alexandre M. Gualberto. Isso significa dialogar com setores com os quais tradicionalmente as grandes organizações nacionais do Movimento Negro têm dificuldades de dialogar.

Dessa forma o CEN, de maneira pioneira, criou uma diretoria nacional para os temas LGBT, atua fortemente na área dos direitos humanos, da comunicação, da temática da violência, de gênero - tanto na perspectiva da mulher, quanto sob o viés do masculino.

O CEN articula-se em âmbito nacional dialogando com outras redes mundo afora, firmando relações políticas com grupos em Portugal, Itália, Alemanha, Estados Unidos e Mercosul. Enfim, o CEN é uma novidade interessante no campo do movimento social brasileiro e, principalmente no campo do Movimento Negro.



Marcio Alexandre M. Gualberto
Coordenador Nacional de Política Institucional do
Coletivo de Entidades Negras - CEN - http://www.cenbrasil.org.br/
Editor dos sites Palavra Sinistra e Atentos à Mídia
Rede Social Religiosidade Afro-Brasileira - http://religiaoafro.ning.com/
Colunista de Afropress - Agência de Informação Multiétnica